terça-feira, 31 de março de 2009

Rubens Nóbrega fala sobre a chegada de Marcela no Jornal Correio

Marcela
Lembro que ela chegou – bem mocinha, bem magrinha – dizendo que era jornalista e soubera da existência de uma vaga de repórter no jornal.
Confirmei a possibilidade da vaga, não a certeza. Até por que naquele tempo a incerteza era presença muito forte no caixa da empresa e muito mais na relação com seus empregados.
Mesmo assim, como a precisão era grande, estava selecionando candidatos e candidatas para duas vagas, não mais, dando preferência a iniciantes na carreira para interar a equipe de reportagem de Geral ou Cidades.
Precisava de gente como aquela menina, principalmente porque veteranos bons, qualificados e produtivos, eram uma raridade no mercado. Uns já estavam empregados; outros eram inempregáveis, sobretudo por insuficiência de caráter.
De modo que investia na seleção de jovens talentos. E a chance de entrar para a Redação, Reportagem ou Revisão do jornal, salvo casos excepcionais, passava por um teste de seleção, que aplicava mesmo aos ‘apadrinhados’.
Coisa simples: uma prova prática e outra escrita.
No caso dos focas e das focas, sempre mandava ele ou ela cobrir algum fato em curso – ou já ocorrido – pelo Centro da Capital, onde as canelas do(a) candidato(a) dispensariam o suporte da única viatura de que dispunha o jornal.
Era uma Brasília velha, que somente se mantinha de pé e rodando graças ao zeloso Givaldo, o homem que não passa dos 60 km/h nem se estiver na reta de chegada de grande prêmio da Fórmula 1.
Descobri, anos depois, que o modo pachorrento com que Givaldo se comportava ao volante tinha história. Ele fora motorista de funerária por 15 anos, antes de o Correio tombá-lo entre os semoventes.

Voltando

Dei-lhe pauta de ir até o Mercado Central, a 150 metros da sede do jornal, na Avenida Pedro II, em João Pessoa, onde deveria levantar o desfecho de uma pendenga entre ambulantes e rapas da Prefeitura. Algo do gênero.
Não deu quinze minutos, a magrinha retornou ao jornal e a minha sala botando fogo pelas ventas. “Tá querendo me fazer de besta, é?”, questionou-me, ríspida, olhando firme no meu olho.
Entre surpreso e irritado com a ‘insolência’, perguntei a razão de ela ter voltado tão rapidamente e se dirigir daquela forma a minha pessoa, então editor geral deste matutino, como diria o saudoso Oduvaldo.
- Você me manda cobrir um troço e chego lá já tem um repórter fazendo a matéria... Se não me quer no seu jornal, diga logo. Mas não faça os outros de imbecil não!
Metido a importante e se achando poderoso por ser então jovem e já no ‘topo’ da carreira, ocupando cargo de editor, achei a atitude daquela Maga um tremendo desaforo, além de injusto.
Injusto porque até a entrada daquela figura na minha sala eu não havia lido a pauta dos repórteres de Cidades e achava que o chefe de Reportagem, Luiz Eduardo Teixeira, jamais fosse escalar alguém para assunto como aquele.

Ainda assim

Segurando a vontade de mandar aquela menina à merda, não sei porque fui subitamente acometido por algum surto de humildade e até pedi desculpa.

Deu certo

Não só pedi desculpas como anexei explicações que normalmente dispensaria, brindando a interlocutora com um grosseiro “não tenho explicações a dar”.
Mas, naquele instante, houve alguma coisa até hoje inexplicável que acendeu lá por dentro uma vontade danada e imediata de incorporar a foquinha à equipe e a pessoa ao meu círculo de afetividades.
Não, não “pintou um clima”, como a maledicência talvez possa inferir.
Não foi o clássico “amor à primeira vista”; com certeza amizade, fraternidade, lealdade, solidariedade e senso de justiça – tudo à primeira vista – que me atraiu naquela criatura. Porque valores e sentimentos assim ela tem de sobra.
Na ocasião, mais do que descer do salto, diante dela bateu-me no ato uma daquelas intuições que a gente tem poucas vezes na vida para, mesmo no escuro, apostar em alguém. Sem saber minimamente do que esse alguém é capaz.
Não sei bem o que me levou a intuir nessa direção. O tempo – lá se vão 30 anos – não me deixa precisar o que houve exatamente.
Talvez tenha sido o jeito dela, sua franqueza, a indignação evidente no semblante, a firmeza de opinião, mesmo diante de quem poderia facilmente lhe negar ou conceder o emprego desejado.
Também não lembro se houve padrinho forte que me recomendou a moça. Talvez houve e isso tenha atenuado a minha então famosa casmurrice mesclada de soberba e boçalidade conferidas pelo exercício do cargo.
Mas isso não era determinante, acreditem. Tinha liberdade e autonomia para contratar colegas para o difícil batente jornalístico no Correio no tempo de vacas magras e perigosas, pelo que se veria no correr da luta.
Mas alguma coisa me disse que aquela pessoinha veio para ser um bem, algo de muito bom na minha vida e na vida de todos os colegas da época. Acertei em cheio.
Daquele tempo até hoje só cresceu a minha admiração, respeito e carinho por Marcela Sitônio, a Maga docemente ‘atrevida’ que me faz seguir para onde ela for ou pelo caminho que ela indicar.
Na presidência da API, então...
-- API DIFERENTE, MARCELA PRESIDENTE.Contatos 9983-3800

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